Partido Comunista Internacional Corpo unitário e invariante das teses do partido

Partido Comunista de Itália
Conferência Nacional Clandestina, Como, Maio de 1924

 
ESBOÇO DE TESE SOBRE A ORIENTAÇÃO E A TAREFA DO P.C. EM ITÁLIA APRESENTADA PELA ESQUERDA DO PARTIDO





Não é possível incluir nestas teses a parte relativa às questões de ordem geral e internacional, sem as quais não podem ser precisamente avaliadas, porque estas questões são delineadas do ponto de vista da ala esquerda do PCdeI nas teses sobre táticas do Congresso de Roma e no projeto de teses táticas para a Internacional apresentadas no 4º Congresso por Bordiga: documentos que são considerados bem conhecidos aos camaradas.

A natureza desta discussão e a necessidade de a encurtar justificam a compilação muito concisa destas teses, que cobrem tópicos que, numa consulta regular ao partido, seriam divididos em várias secções na agenda de um congresso.


I. A situação italiana

1) Uma série de interligações de circunstâncias complexas torna as lições que decorrem do curso da luta social em Itália nos últimos anos muito interessantes do ponto de vista da política da burguesia e do proletariado, embora a Itália seja um país com capitalismo não muito avançado. Depois das aventuras reacionárias da última década do século passado, no início da presente, a política da burguesia caracterizou-se por uma ampla utilização dos recursos "esquerdistas", a fim de neutralizar e atrair para a mentira da colaboração de classe o grandioso movimento proletário.

2) A guerra mundial lançou a burguesia e o Estado italiano numa grave crise, devido à falta de solidez da economia italiana e dos poucos ganhos da vitória. A fim de evitar o resultado revolucionário de uma tal crise, a política burguesa consistiu inicialmente numa tática esperta de conciliação e concessões ao proletariado, até as forças estarem prontas para desencadear uma ofensiva reacionária que garantisse a preservação do regime. O primeiro fator desta ação pode ser visto no trabalho dos governos de Nitti e Giolitti: sobretudo nas eleições de 1919, nas quais o primeiro enfrentou uma invasão de deputados socialistas no parlamento, e na ocupação das fábricas em 1920, nas quais o segundo conseguiu encontrar um compromisso com os líderes proletários, evitando nesta situação extremamente perigosa ao regime burguês a tensão excessiva da luta de classes.

3) O segundo fator de conservação burguesa foi o Fascismo. O fascismo surgiu no terreno do movimento dos combatentes e das classes médias, um estrato instável que o partido do proletariado não foi capaz de submeter à visão da sua ditadura, e que, sob a ilusão de fazer uma política autónoma e de ser herdeira (sic) das classes políticas tradicionais, foi mobilizado pela maquinaria do Estado e pelas grande burguesias, industriais e agrárias, para a ofensiva armada contra os trabalhadores revolucionários. A ofensiva não só impediu o desenvolvimento de qualquer ação revolucionária, como despojou os trabalhadores das concessões enganosas do período democrático e procurou demolir todas as suas bases de organização. O coroar de sucesso desta ação política, na qual os vários grupos e partidos burgueses colaboraram, sobretudo nos concursos dos líderes políticos, num todo dialético e inseparável, foi a criação de um Ministério fascista, que não é o governo de um novo partido e de um novo programa, mas a consolidação do regime tradicional, que tendo dado ao país uma organização formidável desconhecida do antigo partido liberal, com a pressão deste e da máquina estatal substitui a necessidade de paralisações e concessões às classes trabalhadoras.

4) A experiência italiana mostra quão reacionária e insensata é a tese de que as condições de uma ampla democracia política permitem ao proletariado realizar o seu avanço revolucionário. Antes disso, essas condições conduzirão sempre ao desmascaramento da ditadura burguesa, seja qual seja o seu rótulo político, na contra-ofensiva defensiva e violenta. O futuro da insurreição proletária não reside na conquista preliminar da velha plataforma equívoca da chamada "liberdade", mas na luta contra as organizações da ditadura burguesa. A situação atual da derrota proletária deve traduzir-se cada vez mais numa consciência e preparação das massas, hoje tão vermelha como antes, para aquela necessidade da luta revolucionária que é a pedra angular clara do programa comunista e que não deve ser velada por fórmulas intermédias e equívocas.


II. A Política do Proletário

5) O antigo Partido Socialista Italiano na Segunda Internacional era um partido orientado para a esquerda, de tal forma que pôde recusar as ofertas colaboracionistas da burguesia e manter-se fora da colaboração da guerra. A formação de uma maioria sobre estas teses negativas não foi, contudo, equivalente à prevalência no partido de uma consciência completa da tarefa revolucionária positiva. A corrente que, não parando na fórmula "nem aderir nem sabotar", sustentava que a partir da guerra se deve aproveitar a oportunidade para o ataque revolucionário à burguesia mundial, segundo a formulação de Lenine, foi sempre, durante e depois da guerra, uma minoria, mesmo que uma forte, no Partido.

6) A situação do pós-guerra colocou o Partido no meio de muitos movimentos esquerdistas das massas com condições de insuficiência deplorável. Esta insuficiência foi:
(a) Teórica e programática, na medida em que lhe faltava uma consciência do processo revolucionário, claramente marxista e distinto do pacifismo dos reformistas, e do revolucionismo verbal e pequeno-burguês, simultaneamente demasiado fatalista e demasiado voluntarista;
b) Organizacional, na medida em que não havia unidade orgânica no Partido nem preparação de órgãos de ação em qualquer domínio, de modo que o controlo dos órgãos parlamentares e dos sindicatos permaneceu com a minoria reformista de extrema-direita, apesar desta ter sido excluída da liderança do Partido;
c) Tática e estratégica, na medida em que uma ação das massas possível só foi concebida sob um movimento popular questionável desprovido de qualquer estado-maior e de qualquer conhecimento das sucessivas posições a alcançar, e confiada às alianças ocasionais de grupos subversivos de todos os tipos, desde o movimento republicano burguês ao anarquista, tendo objetivos e métodos divergentes e incompatíveis.
Uma manifestação que veio desta insuficiência constitucional foi a situação internacional do partido, que no Congresso de Bolonha tinha aderido ao programa da Terceira Internacional, mas recusou-se a enfrentar as consequências mais básicas de tal atitude, incluindo a de eliminar a extrema direita reformista. Esta simples eliminação não teria feito do partido um partido verdadeiramente revolucionário, já que outras condições mais substanciais eram necessárias; mas a recusa obstinada era um sintoma de que a maioria do partido, e todo o seu centro maximalista e unitário, estavam fora do movimento comunista, e não podiam, nem queriam, nem deveriam fazer parte dele.

7) O fracasso do proletariado italiano no período pós-guerra é a demonstração mais evidente da tese de que a unidade formal e a convergência de um consenso sentimental das massas não são suficientes para assegurar uma vitória revolucionária, onde não existe um partido marxista que esteja, em termos de doutrina, organização e capacidade tática, à altura da sua tarefa. Mostra que um partido heterogéneo ou um bloco de partidos diferentes nunca irá fornecer o estado-geral da revolução vitoriosa.


III. The Communist Party: first period


8) O Partido Comunista de Itália foi constituído no Congresso de Livorno com a cisão de uma minoria do antigo partido, da forma lógica e oportuna que tinha de dar a plataforma de um novo partido revolucionário que, embora utilizando as tradições da esquerda socialista italiana, romperia completamente com o tronco organizacional e com os hábitos do reformismo e do centrismo. Os maximalistas que permaneceram com os reformistas não eram comunistas, mas ocasionalmente foram enganados por um mal-entendido em concordar com a Terceira Internacional, mas, como estado-maior político para a formação do movimento italiano, eram "indesejáveis" para o novo partido revolucionário.

9) O Partido Comunista foi constituído numa situação cuja viragem desfavorável para o proletariado foi assim delineada, após o fracasso da ocupação das fábricas e o início da ofensiva aberta do Fascismo no Vale do Pó. Como partido ainda minoritário, não podia estabelecer o objetivo de realizar uma ofensiva revolucionária do proletariado, e de facto nunca poderia estabelecer este como o seu próximo objetivo.
A tarefa do partido apresentou-se da seguinte forma: a sua ideologia foi satisfatoriamente fornecida pelo trabalho crítico e polémico que levou à sua formação e pelas doutrinas da Internacional Comunista; a sua organização teve de ser rapidamente criada com base na rede já fornecida pelo trabalho da fração; o seu complexo trabalho tático teve de alcançar duas condições simultâneas: Concentrar para uma defesa eficaz contra o fascismo burguês o maior número possível de trabalhadores, e ao mesmo tempo eliminar as névoas da confusão programática e organizacional dos cem pequenos grupos que se dedicam a revoluções de vários tipos. Para uma verdadeira unidade orgânica revolucionária, contra a confusão e a demagogia oportunista, tinha de ser a palavra do partido. A liderança que o partido deu a si próprio em Livorno e confirmou em Roma queria alcançar estas condições essenciais com o seu trabalho.

10) O primeiro cuidado teve de ser o de salientar a independência política do novo partido em relação a todos os outros, com propaganda e críticas abertas, e evitar qualquer aliança central e local entre organismos políticos: esta era a palavra constante do antigo executivo. Ao mesmo tempo, com o objetivo de aumentar a massa de trabalhadores que pertenciam ao partido revolucionário, foram lançadas as bases para o trabalho do partido entre os sindicatos de trabalhadores, nas oficinas, onde quer que surgissem problemas materiais de interesse para os trabalhadores, de acordo com a direção indiscutível do marxismo revolucionário. Foram formados órgãos e grupos comunistas correspondentes às necessidades de tal trabalho, intimamente ligaos ao Partido. Todo o trabalho para mobilizar a maior parte das massas sobre um plano de defesa revolucionário eficaz baseou-se nesta estrutura, até à proposta de uma frente única apresentada em Agosto de 1921 pelo Comité Sindical Comunista às organizações sindicais vermelhas, para a greve geral nacional contra a reação fascista e patronal.
11) Para a organização militar, o Partido tinha de proceder autonomamente. A rede militar deve ser regulada de uma forma unitária com uma razão mais forte mesmo do que a política. As propostas de ação comum entre os vários partidos ou "fora dos partidos" apresentadas nesta matéria (Arditi del Popolo) foram recusadas, tanto por esta razão de princípio como por aquelas que foram apresentadas por emissários suspeitos e com falsas declarações de consentimento dos órgãos responsáveis do partido, às organizações da periferia, a fim de as induzir em erro. Este e outros elementos demonstraram ao Executivo que estas organizações tinham motivos e objetivos suspeitos, impondo o comportamento pelo qual o antigo grupo governante do Partido reivindica a responsabilidade.

12) A pedido da Internacional Comunista, após a constituição da Aliança do Trabalho entre os sindicatos, o partido chegou a negociações com os partidos políticos, mas impôs condições nestas negociações que asseguraram que o proletariado não voltaria a ser traído, como em todos os casos anteriores de bloqueios por movimentos de massas. Estas condições foram tão eficazes que os outros partidos romperam as negociações, mas nunca ousaram apelar ao proletariado, uma vez que era evidente pelo seu comportamento a sua incapacidade e negligência combinadas com intenções demagógicas e derrotistas.

13) Isto levou à greve de Agosto de 1922. Este episódio, nas suas lições, é um exemplo da aplicação das táticas revolucionárias da frente única. Correspondia ao plano tático da liderança do partido comunista: intervir na liderança do movimento com responsabilidade direta no caso de ser possível ultrapassar a influência dos outros grupos e evitar a sua sabotagem; na hipótese oposta, participar na luta para demonstrar ao proletariado a superioridade revolucionária do partido comunista e convencê-lo à luz dos factos de que a dolorosa possibilidade de derrota pesava sobre a responsabilidade dos outros partidos e teria sido evitada se as propostas dos órgãos comunistas tivessem sido seguidas e não sabotadas.
A ação de Agosto, embora respondendo – e não podia ser de outra forma, devido à política equívoca dos reformistas e à dos maximalistas, cuja cumplicidade foi denunciada demasiado tarde – à hipótese de derrota do proletariado, pôs em evidência o partido comunista e polarizou para ele a parte do proletariado que, mesmo no retiro, queria enfrentar o inimigo e manter-se debaixo das bandeiras da classe e da revolução.

14) Após a greve de Agosto, o desenvolvimento lógico das táticas das propostas de uma frente única, apresentadas no período de Agosto de 1921-Agosto de 1922, deveria ter sido a passagem do partido comunista, apesar da prevalência da reação fascista, a um apelo autónomo ao proletariado para que se reunisse à sua volta, apenas a ele, para a preparação, mesmo amarga e longa, da redenção, denunciando a incapacidade de qualquer outro partido proletário e visando o seu esvaziamento com o êxodo dos seus aderentes às nossas fileiras.
Esta tática eloquente e evidente teve de acompanhar a concentração das maiores energias no terreno da defesa técnica da nossa organização interna, com todos os meios, contra as tentativas da reação para nos reprimir. Para sobreviver a estas tentativas, o partido teve de basear a sua tática futura na palavra: o fascismo, ao derrotar o proletariado, liquidou os métodos políticos e ilusões do velho socialismo pacifista, mesmo escondido sob a mascara ruidosa do maximalismo: o futuro aparece para o proletariado desta maneira: ou fascismo ou comunismo, ou ditadura burguesa ou ditadura proletária.


IV. A Nova Política Comunista


15) Neste período, tornou-se mais claro o desacordo entre as táticas seguidas pelos líderes do partido italiano e as pretendidas pelos órgãos centrais da Internacional. Como já tinha ocorrido, a Internacional não encontrou resistência no partido italiano e ele levou a cabo as suas instruções. Mas é a partir deste período que as próprias disposições vieram alterar substancialmente a direção do trabalho político do partido. De acordo com a Internacional, a divisão que ocorreu entre os maximalistas e os reformistas foi a de lançar a linha de conduta dos comunistas como um facto político mais importante do que a conclusão da greve de Agosto. Ao antecipar a fusão com os maximalistas, e ao dar passos nessa direção, a Internacional não só modificou a linha tática seguida pelo partido até agora, como também mudou a sua plataforma política de constituição. Avaliando o fracasso do proletariado em Itália como também devido às deficiências do partido comunista, a Internacional mostrou que considerava a situação depois de Livorno como provisória, a constituição do partido comunista, como tinha sido até então, como um recuo necessário apenas para atrair mais tarde os maximalistas, em bloco, com o seu jornal Avanti!, para as fileiras da Internacional.

16) Os líderes do partido manifestaram a sua discordância e apoiaram-na mesmo no 4º Congresso Mundial: mas entretanto a nova linha política tinha sido implementada, o que a partir daí inspirou a ação do partido, embora a substituição do Executivo italiano só tenha sido deliberada no Executivo Alargado de Junho de 1923.
O ponto de vista do partido italiano era o seguinte: as divisões são condenáveis em princípio, de acordo com as nossas teses táticas, e também condenáveis é a alimentação de frações comunistas noutros partidos políticos, pois servem para alimentar o mal-entendido sobre as tendências de esquerda destes partidos. O grupo líder do maximalismo italiano e a sua tradição devem ser quebrados, a fim de conduzir a massa de trabalhadores que ainda o segue ao comunismo: é ilusório pensar que podemos conquistar essa massa, de uma forma útil, entrando em acordo com esses líderes e fazendo-lhes concessões e prometendo-lhes participação na liderança do partido comunista unificado, que seria novamente o partido do mal-entendido.
Os trabalhadores maximalistas, mesmo em grupos, devem vir para o Partido Comunista como gregários, ninguém pode entrar nele "com o benefício da patente". Além disso, os líderes do nosso partido, nessa altura, expressaram todo o seu ceticismo quanto à segurança de conquistar o Estado-Maior do segundo e terceiro escalão do maximalismo através da simples adesão de alguns homens mais ou menos convertidos para se juntarem à Internacional, com todas as honras relativas.

17) Tendo prevalecido no Quarto Congresso o critério da fusão, os líderes do Partido Comunista comprometeram-se a disciplina de toda a massa do Partido nas deliberações da Internacional, mas declararam a sua substituição necessária para a realização do novo trabalho político. Entretanto, a onda reacionária de Fevereiro de 1923 acabou com a detenção dos líderes do partido e a descoberta de alguns escritórios centrais. Talvez muitas das consequências deste golpe pudessem ter sido evitadas se o Partido tivesse sido capaz de concentrar as suas energias na defesa contra a reação e não no campo de polémicas e discussões cansativas com a Internacional, que distraíram os líderes do seu cargo e desmoralizaram o Partido face aos seus muitos adversários venenosos. Entretanto, a reação anti-comunista instou os líderes dos maximalistas a descobrir a sua tradicional pusilanimidade e a repudiar e rejeitar a fusão, como aconteceu no Congresso de Milão, onde a fração fusionista foi completamente derrotada, confundindo os seus magros votos com os de um movimento intermédio e equívoco de Lazzari.

18) Em vez de considerar esta dissolução como a liquidação das táticas de fusão erradas, a Internacional atribuiu-a à sabotagem da esquerda comunista, e insistiu na linha de penetração no PSI, alimentando aí a terceira fração internacionalista, escassa em força e capacidade política e organizacional. Assim, uma situação de prelúdio à fusão arrastou-se durante um ano e meio, uma situação que mesmo aqueles que não rejeitam toda a fusão em geral deveriam fazer um esforço para limitar a um período preparatório muito curto. Isto levou a uma dupla organização internacionalista em Itália, com ramificações duplas em todos os campos de trabalho, o que trouxe confusão, laxismo e desconfiança nas fileiras do próprio Partido Comunista, numa altura em que o método de liderança unida, firme e compacta era mais necessário do que nunca.
Nesta situação o maximalismo especulava tanto quanto podia, retratando-se como o movimento que Moscovo reconhecia como um dos aderentes à sua linha de todas as maneiras, e valorizando-se perante o proletariado italiano no período em que todos os outros rótulos revolucionários tinham-se desacreditado. A liquidação do mal-entendido maximalista foi assim atrasada pela política da Internacional.

19) No período seguinte, o partido demonstrou a sua vitalidade espontânea e tradição robusta, provando ser uma força política eficaz e não necessitando de integração para ter uma função autónoma. Na periferia, as organizações partidárias resistiram e recomeçaram magnificamente. Entretanto, as contínuas prevaricações sobre as táticas a serem ditadas aos membros de terceira patente, sobre a sua adesão ao Partido Comunista e sobre continuarem sua no Partido Socialista para a conquista hipotética, a substituição dos antigos líderes por elementos que se encontravam numa posição intermédia entre a sua política e a da Internacional, reduziram o funcionamento do aparelho central do partido a uma prática diária e banal sem rigor e sem fisionomia, apesar da boa vontade da maioria dos camaradas encarregados.

20) Nas eleições políticas, quisemos mais uma vez experimentar a tática mal sucedida de convidar os outros partidos políticos, e uma vez que isso tinha falhado, construir uma aliança com o terceiro partido e dar uma palavra de unidade, enquanto estávamos aliados e unidos apenas com uma organização feita por nós, e por assim dizer com a nossa própria imagem refletida num espelho. Isto tornou necessária na formação das listas e do novo grupo parlamentar uma elasticidade de critérios que teria parecido escandalosa há dez ou quinze anos à esquerda do antigo partido socialista: os políticos puderam escolher a sangue frio a lista na qual colocar o seu nome, fazendo ou renunciando a uma profissão de terceiro internacionalismo.

Mesmo que isto tivesse levado a uma vantagem eleitoral, teria sido condenável: mas em vez disso, o sucesso do partido não foi o sucesso de uma aliança, mas dos "comunistas" definidos como tal pela imprensa adversária, enquanto nós estávamos sob a sobra duma folha de figueira desta chamada unidade. A formulação estridente: fascismo ou comunismo, e a atitude de oposição tomada pela extrema esquerda, repudiando em princípio todos os blocos eleitorais possíveis, amplos ou estreitos, reais ou fictícios, para além de serem mais consentâneos com táticas revolucionárias, ter-nos-iam dado um sucesso eleitoral ainda maior. A atitude oposta ameaça revalorizar o fetiche estúpido da unidade falsa e nominal, para fazer o proletariado esquecer o que a nossa doutrina e a situação lhe ensinam: considerar os partidos do socialismo oportunista como impotentes e contra-revolucionários.


V. A futura tarefa do Partido Comunista em Itália

21) A tarefa do Partido, de acordo com a esquerda comunista, pode ser deduzida do que dissemos sobre a situação italiana, em relação às diretivas táticas das nossas teses conhecidas. Depende das decisões da Internacional, uma vez que esta última, e não uma maioria do partido, deve decidir sobre este assunto. Na hipótese da Internacional, tendo evitado qualquer revisão programática, aceitar os critérios da esquerda no que diz respeito a táticas e critérios organizacionais e diretivas, o partido italiano teria de estabelecer para si próprio os seguintes objetivos:

Organizacionalmente: liquidação de cada fração noutros partidos e admissão nas suas próprias fileiras de internacionalistas, com um procedimento acelerado em comparação com o normal, mas sem participação nos órgãos diretivos. Consolidação do aparelho organizacional interno e das relações entre centro e periferia, de acordo com uma solução internacional exaustiva e completa da questão;
Politica e taticamente: crítica irreconciliável e verdadeiramente marxista ao fenómeno e ao regime fascista, sem qualquer democratismo e vitimismo, e lutar contra ele com todos os meios; crítica resoluta aos partidos burgueses antifascistas e aos partidos que se chamam antifascistas e social-democratas, evitando a formação de quaisquer blocos, alianças, acordos com eles ou partes deles: trabalhar para ressuscitar os sindicatos de classe e outros organismos económicos para a reorganização das massas de trabalhadores e camponeses, e para ganhar a influência comunista neles.

Este programa de ação pode ser realizado mais amplamente, no que respeita aos muitos e importantes problemas especiais, pelos representantes da esquerda italiana, se o 5º Congresso discutir um programa de ação do Partido Comunista de Itália, e tendo em conta a parte atual do vasto programa análogo apresentado para este fim no 4º Congresso, e não discutido por este.

Só numa tal plataforma, e garantida contra a mutabilidade das táticas e reviravoltas estratégicas que os textos da Internacional deveriam final e explicitamente condenar e excluir, a esquerda comunista italiana poderia retomar o trabalho que tinha empreendido com amplas intenções de continuidade, seriedade, estabelecendo no partido uma regra de disciplina muito rigorosa, mas acompanhada de uma consciência muito segura do rumo que o próprio partido e os seus dirigentes se tinham comprometido, sem desvios e sem surpresas manipuladas sem o conhecimento da massa de militantes.

Caso a direção da Internacional e do partido deva permanecer oposta à aqui traçada, ou mesmo indefinida e não especificada como até agora, a esquerda italiana tem de enfrentar uma tarefa de crítica e controlo, e uma recusa firme e serena de soluções póstumas alcançadas com listas de comités executivos e várias formas de concessões e compromissos, tais como as coberturas demagógicas da muito exaltada e abusiva unidade em palavras só.


Amadeo Bordiga, Bruno Fortichiari, Ruggero Grieco, Luigi Repossi

Do "Stato Operaio" No. 16 de 15 de Maio de 1924.



Apêndice:

Moção da Esquerda do Partido Comunista de Itália

1) O grupo de camaradas que dirigiu o Partido no período após o Congresso de Livorno considerou a necessidade de completar e aumentar a precisão da consciência teórica e política do Partido e da sua organização bem definida e sólida, não como uma tarefa preliminar e ocasional, mas como uma necessidade permanente para os partidos comunistas, que não pode estar em contraste com a implementação da melhor ação tática, tal como esta não deve estar em contradição com esta última, de acordo com os critérios amplamente formulados nas teses sobre táticas do Congresso de Roma, que representam fielmente as opiniões desse grupo.

2) As divergências que surgiram entre o Partido Comunista de Itália e a Internacional Comunista basearam-se numa avaliação diferente dos problemas inerentes às táticas, à organização interna, e ao trabalho de direção da Internacional como um todo, e baseado apenas num aspeto peculiar da divergência geral foi traduzido numa avaliação da situação italiana e da tarefa do Partido Comunista Italiano.

3) O antigo Executivo do PCdeI pôde aplicar a linha de ação que correspondia às suas opiniões até à greve de Agosto de 1922. Essa greve e toda a ação a que lhe conduziu foi equivalente a um exemplo da aplicação da tática de conquista das massas através da frente única, tal como delineada nas Teses de Roma; e a situação que culminou nela, com a derrota do proletariado, pela qual foram responsáveis os outros partidos e grupos que dirigiram a greve e que nela participaram, teve de ser mais desenvolvida, mesmo no retiro geral da classe operária italiana, com um período de ação completamente autónomo por parte do PCdeI que denunciou o facto de o proletariado ter sido derrotado, que denunciou da forma mais explícita todos os outros partidos e grupos acima mencionados como incapazes de ação coletiva, tornando-se o centro da resistência proletária e da redenção contra a ofensiva capitalista triunfante.

4) Naquele momento culminante, parecia à IC que a forma de ganhar mais força em Itália era dada pela divisão do Partido Socialista com a fusão dos maximalistas e do nosso Partido. A partir desse momento, a Internacional, como era seu direito indiscutível, assumiu praticamente a direção da ação em Itália, que inspirou para o novo objetivo. Desde então, os líderes do PCdeI têm-se sentido e proclamado incompatíveis com a direção desta política, que não partilhavam. No IV Congresso, depois de mais uma vez terem apoiado o seu ponto de vista nos Comités, abstiveram-se de falar contra a nova política no Plenário do Congresso e clarificaram a sua atitude, comprometendo-se com a disciplina absoluta de todo o Partido e de si próprios como membros militantes do Partido, mas declinaram explicitamente a tarefa de liderança política.

5) A questão mais importante que surge neste campo após o Quinto Congresso não é a da sabotagem do PCdeI contra as decisões da IC. Os antigos líderes observaram lealmente a linha agora indicada, que não consistia em se tornarem responsáveis pela realização da fusão, que acreditavam ser prejudicial e subordinadamente impossível, mas em exigirem a sua substituição imediata. A fusão não teve lugar devido ao comportamento dos maximalistas, e em qualquer caso a Internacional poderia, se tivesse acreditado nisso, ter procedido à substituição solicitada dos líderes do Partido perante o Executivo Alargado de Junho de 1923. Nenhum ato contra a fusão pode ser citado contra os antigos líderes, como os documentos provam.

6) A experiência da ação do Partido no novo período, ou seja, depis de Agosto de 1922 – sendo indiscutível que a mudança de rumo teve lugar numa altura em que o julgamento dos resultados das antigas e novas políticas era problemático – enquanto não apresenta um balanço de uma rápida conquista de novos efeitos e posições políticas, exceto na linha progressiva defendida pelos antigos líderes, e não levou a qualquer elaboração orgânica de uma nova consciência e prática política; com as oscilações de atitudes nas relações entre o PSI e a sua esquerda, com o desfoque da fronteira entre as forças comunistas e as outras, com a criação de organismos políticos duplos, da imprensa, etc, mostra que o método em questão corresponde a um afrouxamento da orientação precisa e da disciplina organizacional do Partido e que conduz a um inegável estado de mal-estar e descontentamento entre os camaradas; enquanto as possibilidades de ação benéfica não deixam de se apresentar ao Partido, que no material que o compõe e na sua antiga estrutura não deixa de demonstrar as suas capacidades revolucionárias, em contraste com as críticas contínuas que muitas vezes são factualmente incorretas, por vezes disparatadas e pouco sérias, com as quais acredita estar a ser ensinado da melhor maneira.

7) Os problemas da ação do PCdeI só podem ser resolvidos com base em discussões e decisões internacionais sobre toda a direção da Internacional Comunista. A ala esquerda do PCdeI pode formular um programa de ação partidária para o presente e o futuro, mas baseando-o no pressuposto de que as suas opiniões sobre as táticas, organização e direção da IC prevalecerão nos fóruns internacionais, mantendo em pleno vigor os postulados programáticos clássicos tal como estão gravados nos documentos constitucionais devidos a Lenine, e inspirados na linha mais vigorosa do marxismo revolucionário.

8) Só se em tal discussão for alcançado um consenso de opiniões e a ala esquerda do Partido Comunista se encontrar no mesmo terreno que a maioria do Partido Comunista nas deliberações relevantes, é que a própria ala esquerda poderá participar na nova liderança do Partido.

9) A minoria do PCdeI, ou seja, a sua ala direita, corresponde em parte à tendência no terreno tático atual da IC, mas em parte representa a sobrevivência de elementos imaturos e conservadores da mentalidade centrista. Tal grupo poderia assumir tarefas de "liquidação" da tradição do Partido, caso se reunisse com a ação de grupos liquidatários pela gloriosa tradição política do IC; contra este perigo, a ala esquerda do IC lutará da maneira mais enérgica e decisiva.

10) É indiscutível que na Internacional, funcionando como Partido Comunista mundial, a centralização orgânica e a disciplina excluem a existência de frações ou grupos que podem ou não assumir a liderança de partidos nacionais, como agora acontece em todos os países. A ala esquerda do PCdeI. é a favor da realização mais rápida deste objetivo, mas considera que ele não é alcançado por decisões e imposições mecânicas, mas assegurando o desenvolvimento histórico correto do Partido Comunista Internacional, que deve ser acompanhado pela clarificação da ideologia política, na definição inequívoca de táticas, e na consolidação organizacional.
Uma Internacional sem frações será uma em que prevalecerão os critérios de solidez e continuidade política. Estes critérios tornam incompatíveis as duplas organizações locais, fusões, ou seja, a admissão de militantes não com garantias estatutárias mas com a súbita atribuição de importantes funções de liderança através de negociações e compromissos, blocos políticos, agitações com exigências pouco claras que podem estar em contraste com o conteúdo do nosso programa, tais como o do Governo dos Trabalhadores, etc. Caso a Internacional ameace evoluir na direção oposta, a emergência de uma oposição internacional de esquerda seria uma necessidade revolucionária e comunista absoluta. A ala esquerda do PCdeI confia que esta dolorosa eventualidade será, por decisões claras do congresso iminente, inequivocamente excluída por razões de princípio bem como pelo próprio significado das mais recentes experiências da ação comunista internacional, e os comunistas continuarão, sem quaisquer atenuações e manobras de uma diplomacia política ilusória, a luta simultânea implacável contra a reação burguesa e o oportunismo, que sob todas as formas espreita entre os trabalhadores, aliado necessário e natural dos primeiros.

Amadeo Bordiga, Bruno Fortichiari, Ruggero Grieco, Luigi Repossi

“Stato Operario”, 15-5-1924







I - A situação italiana
II - A Política do Proletário
III - O Partido Comunista: primeiro período
IV - A Nova Política Comunista
V - A futura tarefa do Partido Comunista em Itália

Apêndice:
Moção da Esquerda do Partido Comunista de Itália

 

 

Não é possível incluir nestas teses a parte relativa às questões de ordem geral e internacional, sem as quais não podem ser precisamente avaliadas, porque estas questões são delineadas do ponto de vista da ala esquerda do PCdeI nas teses sobre táticas do Congresso de Roma e no projeto de teses táticas para a Internacional apresentadas no 4º Congresso por Bordiga: documentos que são considerados bem conhecidos aos camaradas.

A natureza desta discussão e a necessidade de a encurtar justificam a compilação muito concisa destas teses, que cobrem tópicos que, numa consulta regular ao partido, seriam divididos em várias secções na agenda de um congresso.


I. A situação italiana

1) Uma série de interligações de circunstâncias complexas torna as lições que decorrem do curso da luta social em Itália nos últimos anos muito interessantes do ponto de vista da política da burguesia e do proletariado, embora a Itália seja um país com capitalismo não muito avançado. Depois das aventuras reacionárias da última década do século passado, no início da presente, a política da burguesia caracterizou-se por uma ampla utilização dos recursos "esquerdistas", a fim de neutralizar e atrair para a mentira da colaboração de classe o grandioso movimento proletário.

2) A guerra mundial lançou a burguesia e o Estado italiano numa grave crise, devido à falta de solidez da economia italiana e dos poucos ganhos da vitória. A fim de evitar o resultado revolucionário de uma tal crise, a política burguesa consistiu inicialmente numa tática esperta de conciliação e concessões ao proletariado, até as forças estarem prontas para desencadear uma ofensiva reacionária que garantisse a preservação do regime. O primeiro fator desta ação pode ser visto no trabalho dos governos de Nitti e Giolitti: sobretudo nas eleições de 1919, nas quais o primeiro enfrentou uma invasão de deputados socialistas no parlamento, e na ocupação das fábricas em 1920, nas quais o segundo conseguiu encontrar um compromisso com os líderes proletários, evitando nesta situação extremamente perigosa ao regime burguês a tensão excessiva da luta de classes.

3) O segundo fator de conservação burguesa foi o Fascismo. O fascismo surgiu no terreno do movimento dos combatentes e das classes médias, um estrato instável que o partido do proletariado não foi capaz de submeter à visão da sua ditadura, e que, sob a ilusão de fazer uma política autónoma e de ser herdeira (sic) das classes políticas tradicionais, foi mobilizado pela maquinaria do Estado e pelas grande burguesias, industriais e agrárias, para a ofensiva armada contra os trabalhadores revolucionários. A ofensiva não só impediu o desenvolvimento de qualquer ação revolucionária, como despojou os trabalhadores das concessões enganosas do período democrático e procurou demolir todas as suas bases de organização. O coroar de sucesso desta ação política, na qual os vários grupos e partidos burgueses colaboraram, sobretudo nos concursos dos líderes políticos, num todo dialético e inseparável, foi a criação de um Ministério fascista, que não é o governo de um novo partido e de um novo programa, mas a consolidação do regime tradicional, que tendo dado ao país uma organização formidável desconhecida do antigo partido liberal, com a pressão deste e da máquina estatal substitui a necessidade de paralisações e concessões às classes trabalhadoras.

4) A experiência italiana mostra quão reacionária e insensata é a tese de que as condições de uma ampla democracia política permitem ao proletariado realizar o seu avanço revolucionário. Antes disso, essas condições conduzirão sempre ao desmascaramento da ditadura burguesa, seja qual seja o seu rótulo político, na contra-ofensiva defensiva e violenta. O futuro da insurreição proletária não reside na conquista preliminar da velha plataforma equívoca da chamada "liberdade", mas na luta contra as organizações da ditadura burguesa. A situação atual da derrota proletária deve traduzir-se cada vez mais numa consciência e preparação das massas, hoje tão vermelha como antes, para aquela necessidade da luta revolucionária que é a pedra angular clara do programa comunista e que não deve ser velada por fórmulas intermédias e equívocas.


II. A Política do Proletário
 

5) O antigo Partido Socialista Italiano na Segunda Internacional era um partido orientado para a esquerda, de tal forma que pôde recusar as ofertas colaboracionistas da burguesia e manter-se fora da colaboração da guerra. A formação de uma maioria sobre estas teses negativas não foi, contudo, equivalente à prevalência no partido de uma consciência completa da tarefa revolucionária positiva. A corrente que, não parando na fórmula "nem aderir nem sabotar", sustentava que a partir da guerra se deve aproveitar a oportunidade para o ataque revolucionário à burguesia mundial, segundo a formulação de Lenine, foi sempre, durante e depois da guerra, uma minoria, mesmo que uma forte, no Partido.

6) A situação do pós-guerra colocou o Partido no meio de muitos movimentos esquerdistas das massas com condições de insuficiência deplorável. Esta insuficiência foi:
(a) Teórica e programática, na medida em que lhe faltava uma consciência do processo revolucionário, claramente marxista e distinto do pacifismo dos reformistas, e do revolucionismo verbal e pequeno-burguês, simultaneamente demasiado fatalista e demasiado voluntarista;
b) Organizacional, na medida em que não havia unidade orgânica no Partido nem preparação de órgãos de ação em qualquer domínio, de modo que o controlo dos órgãos parlamentares e dos sindicatos permaneceu com a minoria reformista de extrema-direita, apesar desta ter sido excluída da liderança do Partido;
c) Tática e estratégica, na medida em que uma ação das massas possível só foi concebida sob um movimento popular questionável desprovido de qualquer estado-maior e de qualquer conhecimento das sucessivas posições a alcançar, e confiada às alianças ocasionais de grupos subversivos de todos os tipos, desde o movimento republicano burguês ao anarquista, tendo objetivos e métodos divergentes e incompatíveis.
Uma manifestação que veio desta insuficiência constitucional foi a situação internacional do partido, que no Congresso de Bolonha tinha aderido ao programa da Terceira Internacional, mas recusou-se a enfrentar as consequências mais básicas de tal atitude, incluindo a de eliminar a extrema direita reformista. Esta simples eliminação não teria feito do partido um partido verdadeiramente revolucionário, já que outras condições mais substanciais eram necessárias; mas a recusa obstinada era um sintoma de que a maioria do partido, e todo o seu centro maximalista e unitário, estavam fora do movimento comunista, e não podiam, nem queriam, nem deveriam fazer parte dele.

7) O fracasso do proletariado italiano no período pós-guerra é a demonstração mais evidente da tese de que a unidade formal e a convergência de um consenso sentimental das massas não são suficientes para assegurar uma vitória revolucionária, onde não existe um partido marxista que esteja, em termos de doutrina, organização e capacidade tática, à altura da sua tarefa. Mostra que um partido heterogéneo ou um bloco de partidos diferentes nunca irá fornecer o estado-geral da revolução vitoriosa.


III. The Communist Party: first period


8) O Partido Comunista de Itália foi constituído no Congresso de Livorno com a cisão de uma minoria do antigo partido, da forma lógica e oportuna que tinha de dar a plataforma de um novo partido revolucionário que, embora utilizando as tradições da esquerda socialista italiana, romperia completamente com o tronco organizacional e com os hábitos do reformismo e do centrismo. Os maximalistas que permaneceram com os reformistas não eram comunistas, mas ocasionalmente foram enganados por um mal-entendido em concordar com a Terceira Internacional, mas, como estado-maior político para a formação do movimento italiano, eram "indesejáveis" para o novo partido revolucionário.

9) O Partido Comunista foi constituído numa situação cuja viragem desfavorável para o proletariado foi assim delineada, após o fracasso da ocupação das fábricas e o início da ofensiva aberta do Fascismo no Vale do Pó. Como partido ainda minoritário, não podia estabelecer o objetivo de realizar uma ofensiva revolucionária do proletariado, e de facto nunca poderia estabelecer este como o seu próximo objetivo.
A tarefa do partido apresentou-se da seguinte forma: a sua ideologia foi satisfatoriamente fornecida pelo trabalho crítico e polémico que levou à sua formação e pelas doutrinas da Internacional Comunista; a sua organização teve de ser rapidamente criada com base na rede já fornecida pelo trabalho da fração; o seu complexo trabalho tático teve de alcançar duas condições simultâneas: Concentrar para uma defesa eficaz contra o fascismo burguês o maior número possível de trabalhadores, e ao mesmo tempo eliminar as névoas da confusão programática e organizacional dos cem pequenos grupos que se dedicam a revoluções de vários tipos. Para uma verdadeira unidade orgânica revolucionária, contra a confusão e a demagogia oportunista, tinha de ser a palavra do partido. A liderança que o partido deu a si próprio em Livorno e confirmou em Roma queria alcançar estas condições essenciais com o seu trabalho.

10) O primeiro cuidado teve de ser o de salientar a independência política do novo partido em relação a todos os outros, com propaganda e críticas abertas, e evitar qualquer aliança central e local entre organismos políticos: esta era a palavra constante do antigo executivo. Ao mesmo tempo, com o objetivo de aumentar a massa de trabalhadores que pertenciam ao partido revolucionário, foram lançadas as bases para o trabalho do partido entre os sindicatos de trabalhadores, nas oficinas, onde quer que surgissem problemas materiais de interesse para os trabalhadores, de acordo com a direção indiscutível do marxismo revolucionário. Foram formados órgãos e grupos comunistas correspondentes às necessidades de tal trabalho, intimamente ligaos ao Partido. Todo o trabalho para mobilizar a maior parte das massas sobre um plano de defesa revolucionário eficaz baseou-se nesta estrutura, até à proposta de uma frente única apresentada em Agosto de 1921 pelo Comité Sindical Comunista às organizações sindicais vermelhas, para a greve geral nacional contra a reação fascista e patronal.

11) Para a organização militar, o Partido tinha de proceder autonomamente. A rede militar deve ser regulada de uma forma unitária com uma razão mais forte mesmo do que a política. As propostas de ação comum entre os vários partidos ou "fora dos partidos" apresentadas nesta matéria (Arditi del Popolo) foram recusadas, tanto por esta razão de princípio como por aquelas que foram apresentadas por emissários suspeitos e com falsas declarações de consentimento dos órgãos responsáveis do partido, às organizações da periferia, a fim de as induzir em erro. Este e outros elementos demonstraram ao Executivo que estas organizações tinham motivos e objetivos suspeitos, impondo o comportamento pelo qual o antigo grupo governante do Partido reivindica a responsabilidade.

12) A pedido da Internacional Comunista, após a constituição da Aliança do Trabalho entre os sindicatos, o partido chegou a negociações com os partidos políticos, mas impôs condições nestas negociações que asseguraram que o proletariado não voltaria a ser traído, como em todos os casos anteriores de bloqueios por movimentos de massas. Estas condições foram tão eficazes que os outros partidos romperam as negociações, mas nunca ousaram apelar ao proletariado, uma vez que era evidente pelo seu comportamento a sua incapacidade e negligência combinadas com intenções demagógicas e derrotistas.

13) Isto levou à greve de Agosto de 1922. Este episódio, nas suas lições, é um exemplo da aplicação das táticas revolucionárias da frente única. Correspondia ao plano tático da liderança do partido comunista: intervir na liderança do movimento com responsabilidade direta no caso de ser possível ultrapassar a influência dos outros grupos e evitar a sua sabotagem; na hipótese oposta, participar na luta para demonstrar ao proletariado a superioridade revolucionária do partido comunista e convencê-lo à luz dos factos de que a dolorosa possibilidade de derrota pesava sobre a responsabilidade dos outros partidos e teria sido evitada se as propostas dos órgãos comunistas tivessem sido seguidas e não sabotadas.
A ação de Agosto, embora respondendo – e não podia ser de outra forma, devido à política equívoca dos reformistas e à dos maximalistas, cuja cumplicidade foi denunciada demasiado tarde – à hipótese de derrota do proletariado, pôs em evidência o partido comunista e polarizou para ele a parte do proletariado que, mesmo no retiro, queria enfrentar o inimigo e manter-se debaixo das bandeiras da classe e da revolução.

14) Após a greve de Agosto, o desenvolvimento lógico das táticas das propostas de uma frente única, apresentadas no período de Agosto de 1921-Agosto de 1922, deveria ter sido a passagem do partido comunista, apesar da prevalência da reação fascista, a um apelo autónomo ao proletariado para que se reunisse à sua volta, apenas a ele, para a preparação, mesmo amarga e longa, da redenção, denunciando a incapacidade de qualquer outro partido proletário e visando o seu esvaziamento com o êxodo dos seus aderentes às nossas fileiras.
Esta tática eloquente e evidente teve de acompanhar a concentração das maiores energias no terreno da defesa técnica da nossa organização interna, com todos os meios, contra as tentativas da reação para nos reprimir. Para sobreviver a estas tentativas, o partido teve de basear a sua tática futura na palavra: o fascismo, ao derrotar o proletariado, liquidou os métodos políticos e ilusões do velho socialismo pacifista, mesmo escondido sob a mascara ruidosa do maximalismo: o futuro aparece para o proletariado desta maneira: ou fascismo ou comunismo, ou ditadura burguesa ou ditadura proletária.


IV. A Nova Política Comunista

 

15) Neste período, tornou-se mais claro o desacordo entre as táticas seguidas pelos líderes do partido italiano e as pretendidas pelos órgãos centrais da Internacional. Como já tinha ocorrido, a Internacional não encontrou resistência no partido italiano e ele levou a cabo as suas instruções. Mas é a partir deste período que as próprias disposições vieram alterar substancialmente a direção do trabalho político do partido. De acordo com a Internacional, a divisão que ocorreu entre os maximalistas e os reformistas foi a de lançar a linha de conduta dos comunistas como um facto político mais importante do que a conclusão da greve de Agosto. Ao antecipar a fusão com os maximalistas, e ao dar passos nessa direção, a Internacional não só modificou a linha tática seguida pelo partido até agora, como também mudou a sua plataforma política de constituição. Avaliando o fracasso do proletariado em Itália como também devido às deficiências do partido comunista, a Internacional mostrou que considerava a situação depois de Livorno como provisória, a constituição do partido comunista, como tinha sido até então, como um recuo necessário apenas para atrair mais tarde os maximalistas, em bloco, com o seu jornal Avanti!, para as fileiras da Internacional.

16) Os líderes do partido manifestaram a sua discordância e apoiaram-na mesmo no 4º Congresso Mundial: mas entretanto a nova linha política tinha sido implementada, o que a partir daí inspirou a ação do partido, embora a substituição do Executivo italiano só tenha sido deliberada no Executivo Alargado de Junho de 1923.
O ponto de vista do partido italiano era o seguinte: as divisões são condenáveis em princípio, de acordo com as nossas teses táticas, e também condenáveis é a alimentação de frações comunistas noutros partidos políticos, pois servem para alimentar o mal-entendido sobre as tendências de esquerda destes partidos. O grupo líder do maximalismo italiano e a sua tradição devem ser quebrados, a fim de conduzir a massa de trabalhadores que ainda o segue ao comunismo: é ilusório pensar que podemos conquistar essa massa, de uma forma útil, entrando em acordo com esses líderes e fazendo-lhes concessões e prometendo-lhes participação na liderança do partido comunista unificado, que seria novamente o partido do mal-entendido.
Os trabalhadores maximalistas, mesmo em grupos, devem vir para o Partido Comunista como gregários, ninguém pode entrar nele "com o benefício da patente". Além disso, os líderes do nosso partido, nessa altura, expressaram todo o seu ceticismo quanto à segurança de conquistar o Estado-Maior do segundo e terceiro escalão do maximalismo através da simples adesão de alguns homens mais ou menos convertidos para se juntarem à Internacional, com todas as honras relativas.

17) Tendo prevalecido no Quarto Congresso o critério da fusão, os líderes do Partido Comunista comprometeram-se a disciplina de toda a massa do Partido nas deliberações da Internacional, mas declararam a sua substituição necessária para a realização do novo trabalho político. Entretanto, a onda reacionária de Fevereiro de 1923 acabou com a detenção dos líderes do partido e a descoberta de alguns escritórios centrais. Talvez muitas das consequências deste golpe pudessem ter sido evitadas se o Partido tivesse sido capaz de concentrar as suas energias na defesa contra a reação e não no campo de polémicas e discussões cansativas com a Internacional, que distraíram os líderes do seu cargo e desmoralizaram o Partido face aos seus muitos adversários venenosos. Entretanto, a reação anti-comunista instou os líderes dos maximalistas a descobrir a sua tradicional pusilanimidade e a repudiar e rejeitar a fusão, como aconteceu no Congresso de Milão, onde a fração fusionista foi completamente derrotada, confundindo os seus magros votos com os de um movimento intermédio e equívoco de Lazzari.

18) Em vez de considerar esta dissolução como a liquidação das táticas de fusão erradas, a Internacional atribuiu-a à sabotagem da esquerda comunista, e insistiu na linha de penetração no PSI, alimentando aí a terceira fração internacionalista, escassa em força e capacidade política e organizacional. Assim, uma situação de prelúdio à fusão arrastou-se durante um ano e meio, uma situação que mesmo aqueles que não rejeitam toda a fusão em geral deveriam fazer um esforço para limitar a um período preparatório muito curto. Isto levou a uma dupla organização internacionalista em Itália, com ramificações duplas em todos os campos de trabalho, o que trouxe confusão, laxismo e desconfiança nas fileiras do próprio Partido Comunista, numa altura em que o método de liderança unida, firme e compacta era mais necessário do que nunca.
Nesta situação o maximalismo especulava tanto quanto podia, retratando-se como o movimento que Moscovo reconhecia como um dos aderentes à sua linha de todas as maneiras, e valorizando-se perante o proletariado italiano no período em que todos os outros rótulos revolucionários tinham-se desacreditado. A liquidação do mal-entendido maximalista foi assim atrasada pela política da Internacional.

19) No período seguinte, o partido demonstrou a sua vitalidade espontânea e tradição robusta, provando ser uma força política eficaz e não necessitando de integração para ter uma função autónoma. Na periferia, as organizações partidárias resistiram e recomeçaram magnificamente. Entretanto, as contínuas prevaricações sobre as táticas a serem ditadas aos membros de terceira patente, sobre a sua adesão ao Partido Comunista e sobre continuarem sua no Partido Socialista para a conquista hipotética, a substituição dos antigos líderes por elementos que se encontravam numa posição intermédia entre a sua política e a da Internacional, reduziram o funcionamento do aparelho central do partido a uma prática diária e banal sem rigor e sem fisionomia, apesar da boa vontade da maioria dos camaradas encarregados.

20) Nas eleições políticas, quisemos mais uma vez experimentar a tática mal sucedida de convidar os outros partidos políticos, e uma vez que isso tinha falhado, construir uma aliança com o terceiro partido e dar uma palavra de unidade, enquanto estávamos aliados e unidos apenas com uma organização feita por nós, e por assim dizer com a nossa própria imagem refletida num espelho. Isto tornou necessária na formação das listas e do novo grupo parlamentar uma elasticidade de critérios que teria parecido escandalosa há dez ou quinze anos à esquerda do antigo partido socialista: os políticos puderam escolher a sangue frio a lista na qual colocar o seu nome, fazendo ou renunciando a uma profissão de terceiro internacionalismo.

Mesmo que isto tivesse levado a uma vantagem eleitoral, teria sido condenável: mas em vez disso, o sucesso do partido não foi o sucesso de uma aliança, mas dos "comunistas" definidos como tal pela imprensa adversária, enquanto nós estávamos sob a sobra duma folha de figueira desta chamada unidade. A formulação estridente: fascismo ou comunismo, e a atitude de oposição tomada pela extrema esquerda, repudiando em princípio todos os blocos eleitorais possíveis, amplos ou estreitos, reais ou fictícios, para além de serem mais consentâneos com táticas revolucionárias, ter-nos-iam dado um sucesso eleitoral ainda maior. A atitude oposta ameaça revalorizar o fetiche estúpido da unidade falsa e nominal, para fazer o proletariado esquecer o que a nossa doutrina e a situação lhe ensinam: considerar os partidos do socialismo oportunista como impotentes e contra-revolucionários.


V. A futura tarefa do Partido Comunista em Itália
 

21) A tarefa do Partido, de acordo com a esquerda comunista, pode ser deduzida do que dissemos sobre a situação italiana, em relação às diretivas táticas das nossas teses conhecidas. Depende das decisões da Internacional, uma vez que esta última, e não uma maioria do partido, deve decidir sobre este assunto. Na hipótese da Internacional, tendo evitado qualquer revisão programática, aceitar os critérios da esquerda no que diz respeito a táticas e critérios organizacionais e diretivas, o partido italiano teria de estabelecer para si próprio os seguintes objetivos:

Organizacionalmente: liquidação de cada fração noutros partidos e admissão nas suas próprias fileiras de internacionalistas, com um procedimento acelerado em comparação com o normal, mas sem participação nos órgãos diretivos. Consolidação do aparelho organizacional interno e das relações entre centro e periferia, de acordo com uma solução internacional exaustiva e completa da questão;
Politica e taticamente: crítica irreconciliável e verdadeiramente marxista ao fenómeno e ao regime fascista, sem qualquer democratismo e vitimismo, e lutar contra ele com todos os meios; crítica resoluta aos partidos burgueses antifascistas e aos partidos que se chamam antifascistas e social-democratas, evitando a formação de quaisquer blocos, alianças, acordos com eles ou partes deles: trabalhar para ressuscitar os sindicatos de classe e outros organismos económicos para a reorganização das massas de trabalhadores e camponeses, e para ganhar a influência comunista neles.

Este programa de ação pode ser realizado mais amplamente, no que respeita aos muitos e importantes problemas especiais, pelos representantes da esquerda italiana, se o 5º Congresso discutir um programa de ação do Partido Comunista de Itália, e tendo em conta a parte atual do vasto programa análogo apresentado para este fim no 4º Congresso, e não discutido por este.

Só numa tal plataforma, e garantida contra a mutabilidade das táticas e reviravoltas estratégicas que os textos da Internacional deveriam final e explicitamente condenar e excluir, a esquerda comunista italiana poderia retomar o trabalho que tinha empreendido com amplas intenções de continuidade, seriedade, estabelecendo no partido uma regra de disciplina muito rigorosa, mas acompanhada de uma consciência muito segura do rumo que o próprio partido e os seus dirigentes se tinham comprometido, sem desvios e sem surpresas manipuladas sem o conhecimento da massa de militantes.

Caso a direção da Internacional e do partido deva permanecer oposta à aqui traçada, ou mesmo indefinida e não especificada como até agora, a esquerda italiana tem de enfrentar uma tarefa de crítica e controlo, e uma recusa firme e serena de soluções póstumas alcançadas com listas de comités executivos e várias formas de concessões e compromissos, tais como as coberturas demagógicas da muito exaltada e abusiva unidade em palavras só.


Amadeo Bordiga, Bruno Fortichiari, Ruggero Grieco, Luigi Repossi

Do "Stato Operaio" No. 16 de 15 de Maio de 1924.

 

 

 

 


Apêndice:
Moção da Esquerda do Partido Comunista de Itália

1) O grupo de camaradas que dirigiu o Partido no período após o Congresso de Livorno considerou a necessidade de completar e aumentar a precisão da consciência teórica e política do Partido e da sua organização bem definida e sólida, não como uma tarefa preliminar e ocasional, mas como uma necessidade permanente para os partidos comunistas, que não pode estar em contraste com a implementação da melhor ação tática, tal como esta não deve estar em contradição com esta última, de acordo com os critérios amplamente formulados nas teses sobre táticas do Congresso de Roma, que representam fielmente as opiniões desse grupo.

2) As divergências que surgiram entre o Partido Comunista de Itália e a Internacional Comunista basearam-se numa avaliação diferente dos problemas inerentes às táticas, à organização interna, e ao trabalho de direção da Internacional como um todo, e baseado apenas num aspeto peculiar da divergência geral foi traduzido numa avaliação da situação italiana e da tarefa do Partido Comunista Italiano.

3) O antigo Executivo do PCdeI pôde aplicar a linha de ação que correspondia às suas opiniões até à greve de Agosto de 1922. Essa greve e toda a ação a que lhe conduziu foi equivalente a um exemplo da aplicação da tática de conquista das massas através da frente única, tal como delineada nas Teses de Roma; e a situação que culminou nela, com a derrota do proletariado, pela qual foram responsáveis os outros partidos e grupos que dirigiram a greve e que nela participaram, teve de ser mais desenvolvida, mesmo no retiro geral da classe operária italiana, com um período de ação completamente autónomo por parte do PCdeI que denunciou o facto de o proletariado ter sido derrotado, que denunciou da forma mais explícita todos os outros partidos e grupos acima mencionados como incapazes de ação coletiva, tornando-se o centro da resistência proletária e da redenção contra a ofensiva capitalista triunfante.

4) Naquele momento culminante, parecia à IC que a forma de ganhar mais força em Itália era dada pela divisão do Partido Socialista com a fusão dos maximalistas e do nosso Partido. A partir desse momento, a Internacional, como era seu direito indiscutível, assumiu praticamente a direção da ação em Itália, que inspirou para o novo objetivo. Desde então, os líderes do PCdeI têm-se sentido e proclamado incompatíveis com a direção desta política, que não partilhavam. No IV Congresso, depois de mais uma vez terem apoiado o seu ponto de vista nos Comités, abstiveram-se de falar contra a nova política no Plenário do Congresso e clarificaram a sua atitude, comprometendo-se com a disciplina absoluta de todo o Partido e de si próprios como membros militantes do Partido, mas declinaram explicitamente a tarefa de liderança política.

5) A questão mais importante que surge neste campo após o Quinto Congresso não é a da sabotagem do PCdeI contra as decisões da IC. Os antigos líderes observaram lealmente a linha agora indicada, que não consistia em se tornarem responsáveis pela realização da fusão, que acreditavam ser prejudicial e subordinadamente impossível, mas em exigirem a sua substituição imediata. A fusão não teve lugar devido ao comportamento dos maximalistas, e em qualquer caso a Internacional poderia, se tivesse acreditado nisso, ter procedido à substituição solicitada dos líderes do Partido perante o Executivo Alargado de Junho de 1923. Nenhum ato contra a fusão pode ser citado contra os antigos líderes, como os documentos provam.

6) A experiência da ação do Partido no novo período, ou seja, depis de Agosto de 1922 – sendo indiscutível que a mudança de rumo teve lugar numa altura em que o julgamento dos resultados das antigas e novas políticas era problemático – enquanto não apresenta um balanço de uma rápida conquista de novos efeitos e posições políticas, exceto na linha progressiva defendida pelos antigos líderes, e não levou a qualquer elaboração orgânica de uma nova consciência e prática política; com as oscilações de atitudes nas relações entre o PSI e a sua esquerda, com o desfoque da fronteira entre as forças comunistas e as outras, com a criação de organismos políticos duplos, da imprensa, etc, mostra que o método em questão corresponde a um afrouxamento da orientação precisa e da disciplina organizacional do Partido e que conduz a um inegável estado de mal-estar e descontentamento entre os camaradas; enquanto as possibilidades de ação benéfica não deixam de se apresentar ao Partido, que no material que o compõe e na sua antiga estrutura não deixa de demonstrar as suas capacidades revolucionárias, em contraste com as críticas contínuas que muitas vezes são factualmente incorretas, por vezes disparatadas e pouco sérias, com as quais acredita estar a ser ensinado da melhor maneira.

7) Os problemas da ação do PCdeI só podem ser resolvidos com base em discussões e decisões internacionais sobre toda a direção da Internacional Comunista. A ala esquerda do PCdeI pode formular um programa de ação partidária para o presente e o futuro, mas baseando-o no pressuposto de que as suas opiniões sobre as táticas, organização e direção da IC prevalecerão nos fóruns internacionais, mantendo em pleno vigor os postulados programáticos clássicos tal como estão gravados nos documentos constitucionais devidos a Lenine, e inspirados na linha mais vigorosa do marxismo revolucionário.

8) Só se em tal discussão for alcançado um consenso de opiniões e a ala esquerda do Partido Comunista se encontrar no mesmo terreno que a maioria do Partido Comunista nas deliberações relevantes, é que a própria ala esquerda poderá participar na nova liderança do Partido.

9) A minoria do PCdeI, ou seja, a sua ala direita, corresponde em parte à tendência no terreno tático atual da IC, mas em parte representa a sobrevivência de elementos imaturos e conservadores da mentalidade centrista. Tal grupo poderia assumir tarefas de "liquidação" da tradição do Partido, caso se reunisse com a ação de grupos liquidatários pela gloriosa tradição política do IC; contra este perigo, a ala esquerda do IC lutará da maneira mais enérgica e decisiva.

10) É indiscutível que na Internacional, funcionando como Partido Comunista mundial, a centralização orgânica e a disciplina excluem a existência de frações ou grupos que podem ou não assumir a liderança de partidos nacionais, como agora acontece em todos os países. A ala esquerda do PCdeI. é a favor da realização mais rápida deste objetivo, mas considera que ele não é alcançado por decisões e imposições mecânicas, mas assegurando o desenvolvimento histórico correto do Partido Comunista Internacional, que deve ser acompanhado pela clarificação da ideologia política, na definição inequívoca de táticas, e na consolidação organizacional.

Uma Internacional sem frações será uma em que prevalecerão os critérios de solidez e continuidade política. Estes critérios tornam incompatíveis as duplas organizações locais, fusões, ou seja, a admissão de militantes não com garantias estatutárias mas com a súbita atribuição de importantes funções de liderança através de negociações e compromissos, blocos políticos, agitações com exigências pouco claras que podem estar em contraste com o conteúdo do nosso programa, tais como o do Governo dos Trabalhadores, etc. Caso a Internacional ameace evoluir na direção oposta, a emergência de uma oposição internacional de esquerda seria uma necessidade revolucionária e comunista absoluta. A ala esquerda do PCdeI confia que esta dolorosa eventualidade será, por decisões claras do congresso iminente, inequivocamente excluída por razões de princípio bem como pelo próprio significado das mais recentes experiências da ação comunista internacional, e os comunistas continuarão, sem quaisquer atenuações e manobras de uma diplomacia política ilusória, a luta simultânea implacável contra a reação burguesa e o oportunismo, que sob todas as formas espreita entre os trabalhadores, aliado necessário e natural dos primeiros.

Amadeo Bordiga, Bruno Fortichiari, Ruggero Grieco, Luigi Repossi

“Stato Operario”, 15-5-1924