Partido Comunista Internacional

As pernas dos cachorros


(Battaglia Comunista, 1952, n.11)


Introdução de 1994

Nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, as condições gerais eram hostis à minoria revolucionária remanescente: o Eixo derrotado e ocupado pelos exércitos Aliados que aplicavam sua ordem contra-revolucionária em direção aos partisanos vencedores, em todos lugares o proletariado era desarmado e derrotado.

Apesar de alguns milhares terem marchado sob a bandeira da Esquerda Comunista na Itália, a grande maioria de proletários sucumbiu ao reformismo e partidos estalinistas, os quais a palavra de ordem poderia ser simplesmente: “se prostrem pelo bem do interesse nacional”. Nessas condições, a guerra revolucionária era improvável.

A situação, naquele momento, era objetivamente desagradável ao partido comunista. Desde que quaisquer formas de criticismo com armas reais foram excluídas, nosso partido devotou suas energias para a construção das energias para as armas da crítica. Tornou-se necessário reafirmar os pontos fundamentais do Marxismo em relação às condições da época e isso significava demonstrar que “nenhum fato novo”, de nenhuma forma, seria desculpa para uma atualização dos princípios do programa comunista. Apenas reiterado a linha do partido marxista seria possível a refundação do partido formal em bases sólidas. Dado que a contra-revolução entrincheirou-se tão profundamente que sua derrota seria improvável no futuro vindouro, quaisquer apelos ao ativismo desesperado justificado por “desilusões” teóricas certamente enfraqueceriam o partido e atrasariam ainda mais a revolução.

A série de artigos “Sul Filo del Tempo”, que começou a ser publicada em nosso jornal bimestral Battaglia Comunista no ano de 1949, foi um elemento chave neste trabalho de reconstrução. A série constantemente se referia a posições tomadas por Marx e Engels em situações similares ao nosso partido após a Segunda Guerra Mundial. Por esta razão, esses artigos são geralmente divididos em duas seções, “Ontem” e “Hoje”.

No artigo aqui traduzido, entretanto, esse formato foi temporariamente abandonado. No lugar estão uma série de contra teses equivocadas respondidas por teses corretas. As contra teses já haviam sido conjecturadas e escritas por vários camaradas do Partido Comunista Internacionalista (nome do partido na época) e refutadas em diversas ocasiões e discussões como artigos, relatórios e encontros. E mesmo assim viu-se a necessidade de um sumário compilando tais formulações. Foi apontado na época que visões equivocadas eram muito perigosas por serem na superfície próximas ao Marxismo.

Com alguns meses da publicação do artigo, a tendência dissonante iria sair do partido, levando com eles o nome do jornal. Isso era permitido pela lei burguesa, mas era tudo que podiam levar com eles; pois deixaram o Marxismo para trás. Daquele momento em diante as vicissitudes desse grupo têm sido de pouco interesse para nós.

Então, sendo o reforçamento de posições marxistas contidas no presente artigo, pelo menos em parte, resposta a uma revolta teórica efêmera, por que republicá-lo hoje? A explicação do título original nos dá a resposta “le gambe ai cani” é contração de uma expressão italiana que significa literalmente fortalecer as pernas de cachorros; uma metáfora para tentativas de redimir o irremediável; no presente artigo implica-se os esforços para forçosamente expelir erros que irão constantemente aparecem, não importa o número de tentativas em afastá-los.

A situação agora encontra-se mais favorável para nós do que nos anos 50. Desde meados dos anos setenta, a crise capitalista se encurtou para períodos mais curtos e intermitentes. O sistema de alianças que dominava o mundo colapsou ou está em processo de. A Rússia, hoje menos “equivalente” aos EUA do que em 1952, abandonou as organizações ocidentais que eram suas subservientes e agora são completamente irreconhecíveis em relação a toda ordem burguesa. Presenciamos diante de nossos olhos a tentativa de renascimento de organizações de classes em algumas partes do mundo e o pulso da contra revolução parece menos firme do que antes.

Tais mudanças na situação mundial apenas confirmaram os argumentos presentes neste artigo. A tolice ativista dos questionadores dos anos 50 não aceleram o curso da história nem em um segundo. Mesmo assim, da mesma forma que podemos ter certeza de que a confusão e falta de precisão refutadas neste texto irão emergir novamente, também podemos ter certeza de que o Marxismo não precisa ser revisto ou mudado. O Marxismo é uma teoria aplicável tanto em período revolucionário e contra-revolucionário, e ainda é um sumário poderoso de nossas posições destinado à membros do partido ou camaradas alinhados à tradição partidária.

 

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Sul filo del Tempo
Le gambe ai cani


Teses e contra teses históricas

Contra tese 1. No início do século XIX, a sociedade é dividida em duas classes antagônicas: a burguesia detentora dos meios de produção, e os trabalhadores proletários.

Tese 1. De acordo com Marx existem três classes em países completamente industrializados:
     1 - Capitalistas industriais, banqueiros e comerciantes,
     2 - Donos de terra, designação completamente apta no mundo burguês com seu livre mercado de terra,
     3 - Trabalhadores assalariados.

Em todos países, mas principalmente em países nos quais a indústria se encontra subdesenvolvida e a burguesia ainda não tomou o poder político, existem outras classes de graus variantes como: aristocracia feudal, artesãos, camponeses proprietários.

Primeiro a burguesia, e depois os assalariados, começaram a ter importância histórica em tempos diferentes para cada país: Itália, século XV - Países Baixos, século XVI - Inglaterra, séc. XVII - França, séc. XVIII - Europa Central, Estados Unidos, Austrália, e outros, s. XIX - Rússia, séc. XX - Ásia, hoje.

O resultado consequente são necessariamente lutas de classe em frentes e áreas completamente diferentes;


Contra tese 2. Proletários são, e demonstram ser, indiferentes às lutas burguesas contra o feudalismo.

Tese 2. As massas proletárias lutam em todos os lugares no campo de insurreição contra o poder absoluto e privilégios feudais. Em várias épocas diferentes, uma parte significativa da classe trabalhadora ingenuamente viu na burguesia democrática uma oportunidade de conquista ao poder para cidadãos empobrecidos. Alguns do campo proletário, influenciados pela doutrina do “socialismo reacionário” viram na burguesia seu caráter exploratório e em seu ódio aos patrões, se alinhou à revolução contra-revolucionária. A parte mais avançada dos trabalhadores possui a posição correta: patrões, e os trabalhadores que estes exploram, não podem compartilhar territórios em termos de demandas civis e ideológicas, mas a revolução burguesa faz-se necessária para que seja pavimentado o caminho para a produção em massa, que permite aumento da qualidade de vida e então tornar possível a administração social, inicialmente do proletariado, das novas forças produtivas. Portanto os trabalhadores se aliam à burguesia contra a nobreza e o clero e a pequena burguesia reacionária. (Cit: Manifesto)


Contra tese 3. Onde a contrarrevolução aconteceu após a vitória da Burguesia (restaurações feudais e dinásticas) a luta não era de preocupação dos trabalhadores pois envolvia dois de seus inimigos.

Tese 3. Em qualquer luta armada em apoio a restauração (as coalizões anti francesas são bons exemplos disso) e contra (por exemplo, as revoluções francesas de 1830 e 1848), o proletariado lutou e necessitava lutar nas trincheiras ao lado da burguesia radical. A dialética da luta de classes e guerra civil mostrou que tal ajuda foi necessária para que a ordem burguesa vencesse; mas imediatamente após essa vitória a burguesia iria atacar ferozmente o proletariado em sua tomada de poder e vantagens sociais. O mesmo padrão é seguido na inevitável sucessão de revoluções e contra revoluções: a ajuda histórica dada à burguesia durante essa insurreição é a condição para que um dia ela seja derrotada após uma série de conflitos. (cit luta de classes na França, 18 de Brumário)


Contra tese 4. Toda guerra entre estados feudais e burgueses, ou insurreições de independência nacional foram vistas com indiferença pela classe trabalhadora.

Tese 4. A formação de estados nacionais de raças e línguas mais ou menos uniformes foram as melhores condições para substituição da produção medieval para a capitalista, e cada burguesia lutava pela derrubada da aristocracia reacionária. Essa evolução em estados nacionais é uma transição necessária para os trabalhadores, já que o internacionalismo, imediatamente afirmado pelos primeiros movimentos operários, não poderia emergir sem a superação do localismo produtivo e os consumos e demandas do período feudal. Portanto era interesse da classe proletária que lutasse pela liberdade da França, Alemanha, Itália e os estados dos Balcãs até 1870, quando este arranjo poderia ser considerado encerrado. Durante o período em que a aliança na luta armada ainda existia, as diferenças ideológicas das classes se desenvolveram, e os trabalhadores se afastaram de lutas patrióticas e nacionalistas. De interesse especial para o futuro o movimento proletário foram as vitórias contra a Sagrada Aliança, a Áustria em 1859 e 1866, contra Napoleão III em 1870; e as diversas vitórias contra a Rússia e a Turquia.


Contra tese 5. A partir do momento em que a burguesia assume o poder sobre todos continentes em que a raça branca predomina, guerras se tornam guerras de rivalidade imperialista; não apenas o movimento operário não possui nenhum interesse em comum com os governos em guerra, continuando a lutar a luta de classes ao ponto do defensismo, mas o próprio resultado da guerra, qualquer que seja, não influenciam no desenvolvimento futuro da luta de classes e a revolução proletária.

Tese 5. Lenin está correto em afirmar que as guerras de 1871 em diante, após o período “pacífico” do capitalismo, são imperialistas, e que a aceitação ideológica das mesmas configura-se traição; e assim em 1914, sejam os países da Entente ou àqueles alinhados aos Alemães, o dever de todo partido revolucionário em oposição era transformar a guerra em guerra civil, acima de tudo se aproveitando da derrota militar.

Excluir quaisquer ações armadas com a burguesia, seja regular ou irregular, não significa que os vários efeitos de eventos militares não sejam mais dignos de consideração. É insano argumentar que quando imensas forças se colidem as consequências são mais ou menos as mesmas. Em senso geral pode-se dizer que a vitória do estado burguês mais velho, rico, política e socialmente estável é menos favorável ao proletariado e sua revolução. Existe uma conexão direta entre os cursos desafortunados da luta proletária nos últimos 150 anos e os constantes sucessos da Grã-Bretanha nas guerras contra Napoleão e subsequentemente contra a Alemanha. O poder burguês inglês goza de três séculos de estabilidade. Marx deu grande importância à guerra civil estadunidense, mas esta não se transfigurou em um estado capaz de derrotar a Europa, muito pelo contrário; tornou-se uma fortaleza do poderio Inglês, e essa fortaleza se tornou gradativamente o centro de todas as guerras em comum.

Em 1914, Lenin indicou claramente a solução mais favorável ser a derrota dos exércitos do Czar já que tal situação desencadearia a erupção da guerra de classes na Rússia: e ele lutou contra qualquer hipótese de que o pior cenário era a vitória Alemã sobre a aliança Anglo-francesa, enquanto atacava com a mesma força os social-chauvinistas alemães.


Contra tese 6. A revolução russa não foi nada além de uma revolta proletária no momento em que a burguesia se encontrava em seu ponto de maior fragilidade, e dela a luta poderia se estender a outros países.

Tese 6. É óbvio que a revolução proletária só pode vencer se for travada internacionalmente, e esta só pode ter início quando as relações de forças estão mais favoráveis. A tese de que a revolução só pode começar em países onde o capitalismo é plenamente desenvolvido, e depois em outros, é puro defensismo. Contra esta posição oportunista, Marx adota uma abordagem historicamente diferente.

Em 1848, Marx considera que apesar da luta cartista, a revolução não iria explodir na Inglaterra industrializada. Ele nota que o proletariado francês pode travar batalhas se alinhar-se à revolução republicana. Mas acima de tudo ele considera como ponto de apoio a dupla revolução na Alemanha. Aqui, instituições feudais ainda estão no poder e Marx esboça as manobras do proletariado germânico; primeiro com a burguesia e liberais, e imediatamente depois contra eles.

Por pelo menos vinte anos e especialmente após 1905, o ano em que o proletariado russo se exibe como classe, os Bolcheviques preparam uma linha parecida para a Rússia. Se baseiam em dois elementos: a decadência feudal que (apesar da covardia da burguesia russa) deve ser derrotada - e a necessidade de uma derrota, igual àquela infligida pelo Japão, que garantirá uma segunda oportunidade.

O proletariado e seu partido, muito próximo em doutrina e organização aos partidos em países em que a burguesia estabeleceu sua hegemonia à mais tempo, identificou esta como sua tarefa: lutar pela revolução liberal contra o czarismo e pela emancipação de camponeses da servidão dos boiardos e depois a tomada de poder pela classe trabalhadora russa.

Muitas revoluções foram derrotadas, algumas antes de tomarem o poder, outras através de repressão armada que os derrubou (Comuna de Paris), outras sem repressão militar mas sim pela destruição de todo tecido social (comunas burguesas italianas). Na Alemanha a esperada dupla revolução fez sua primeira transição militar (e social) mas falharam na segunda. Na Rússia a dupla revolução com sucesso estabelecer a primeira e segunda transições de guerra civil, fez a primeira transição social-econômica, mas falhou em fazer a segunda, essa sendo do capitalismo ao socialismo; mas não devido à uma invasão externa, mas como resultado da derrota proletária internacional além da Rússia (1918–1923). Hoje o esforço do poderio russo não se direciona ao socialismo, mas sim ao capitalismo, em sua marcha revolucionária na Ásia.

O ponto de virada que poderia ter tido a Alemanha em 1848 e a Rússia em 1917 como seu centro não pode ser visto como uma revolução nacional interna, é impensável que igual influência global seja replicada pela China por exemplo, apesar de já estar no caminho do feudalismo pro burguesismo. O ponto fraco para se iniciar localmente uma nova fase revolucionária internacional, daquele ponto em diante, poderia vir apenas de uma guerra perdida em um país capitalista.


Contra tese 7. Sabe-se com clareza que a formação de governos totalitários em governos capitalistas não tem nada a ver com contra revoluções das restaurações citadas nas teses 2 e 3, e são consequências esperadas da concentração socioeconômica das forças; e consequentemente torna-se um lapso de traição reconhecer a necessidade de um bloco proletário-burguês para restaurar o liberalismo em economia e políticas adotando o método partidário de luta. E também seria uma posição equivocada, no eventual conflito entre estados burgueses, apoiar o grupo que seja oposto àquele planejando atacar a Rússia - com o objetivo de defender um regime que de qualquer forma deriva de uma vitória proletária - nenhuma influência para a perspectiva da classe proletária e sua renascença revolucionária devem ser atribuídas à soluções de uma segunda guerra imperialista.

Tese 7. O problema histórico não se desgasta ao reconhecer que todas interpretações cruzadistas da guerra, o conflito “ideológico” entre democracia e fascismo, são tão ruins quanto os de 1914, de liberdade, civilização e nacionalidade. De ambos os lados, essa propaganda mira em segredo a conquista de mercados e poder político econômico; está de fato correto, mas não é o suficiente. O fim do capitalismo só pode ser realizado como uma série de explosões desses sistemas unitários que são os estados de classe territorial; esse processo precisa ser identificado e, se possível, apressado; e a partir do surgimento de guerras imperialistas, a possibilidade de que ele possa ser apressado através da solidariedade política e militar do proletariado é quase nula. Mas não deixa de ser importante codificar esse processo de fim do capitalismo, e adaptar a estratégia internacionalista em conformidade. No lugar desta linha, todavia, a política russa substituiu a manobra cínica do Estado de um novo sistema de poder, mostrando que ela faz parte da constelação do capitalismo mundial. A partir daí, o movimento do proletariado deve iniciar sua recuperação. A primeira etapa é a compreensão.

No início da guerra, o estado de Moscou chegou a um acordo com o estado de Berlim. Não se pode ter criticismos o suficiente para esse fato histórico, acompanhado, pelo que na época eram considerados marxistas, de argumentos da natureza agressiva da guerra de Londres e Paris - que os auto-intitulados partidos comunistas de ambos os blocos foram convidados a participar.

Dois anos depois, o estado de Moscou se aliou com os governos de Londres, Paris e Washington, e direcionou sua propaganda em direção à demonstrar que a guerra contra o Eixo não era uma campanha imperialista e sim uma cruzada ideológica pela liberdade e democracia.

Não só é de extrema importância que o novo movimento proletário estabelecer que em ambas as etapas as diretivas revolucionárias foram abandonadas, mas também avaliar o fato histórico de que na segunda fase, o estado soviético, enquanto juntava forças e recursos para seu avanço capitalista interno, também contribuiu para a solução conservadora da guerra. Fez isso ao contribuir com enorme força militar que preveniu a catástrofe no coração pulsando do Estado de Londres, na enésima vez em que foi afetado pela guerra. Se tal catástrofe tivesse ocorrido, teria sido extremamente favorável a condição para o colapso de outros estados burgueses, começando por Berlim, e incendiando toda a Europa.


Contra tese 8. O presente antagonismo entre os Estados Unidos e a Rússia, e seus respectivos satélites, é entre duas formas de imperialismo que devem ser opostos da mesma maneira. Portanto, se um estiver em vantagem sobre o outro ou um compromisso apaziguador seja formado, as condições para a qual seja possível a ressurgência do movimento comunista e a revolução mundial serão mais ou menos as mesmas.

Tese 8. Tais equações e paralelos, quando não restringidos a condenar o apoio a estados no evento de uma terceira guerra mundial, para ações partisanas em ambos os lados, e opor-se a qualquer renúncia ao defensismo autônomo do proletariado, não são só inadequadas mas ridículas. Não podemos ter em nossa mira a revolução mundial (prevendo de que ainda seja uma necessidade até mesmo quando a história contradizer as possibilidades favoráveis; a qual sem ela não existe partido marxista) sem abordarmos a questão da ausência de luta de classes entre capitalistas e proletários estadunidenses, na Inglaterra também; lugares onde o industrialismo é o mais potente. A resposta para essa questão não pode ser separada do sucesso evidente de todas as empreitadas imperialistas e sua exploração do resto do mundo.

Onde os sistemas de poder nos Estados Unidos e na Inglaterra precisavam apenas conservar o capitalismo mundial, para o qual eles vêm se preparando por muito tempo para um longo e violento movimento histórico nessa direção; cimentando os passos firmes em direção ao autoritarismo social e político. Em territórios europeus e extra-europeus, encontramos uma burguesia mais jovem ainda engajada em luta social e política contra remanescentes de feudalismo, suas formações de estado sendo mais recentes possuem portanto estruturas menos consolidadas. Enquanto isso esse bloco é reduzido ao uso de democratismos e trapaças promovendo colaboração interclasses superficiais após ter exaurido todos recursos de um governo unipartidário autoritário, portanto abreviando seu ciclo. Obviamente tal ordem das coisas irá necessariamente culminar em uma crise do formidável sistema capitalismo concentrado em Washington, que atualmente controla cinco sextos de economia madura para o socialismo e territórios repletos de proletários.

A revolução terá que incluir a luta civil nos Estados Unidos; em que uma vitória na guerra mundial a atrasaria por um período extremamente longevo.

Já que hoje o movimento marxista não degenerado é diminuto, ele é incapaz de aplicar forças de grande tamanho para destruir um ou outro sistemas de dentro, apesar de em princípio aspirarmos por isso. Basicamente, é uma questão de juntar grupos de proletários (ainda muito pequenos) que entendem o papel desempenhado pelos partidos de Moscou e pró-Moscou através de sua colaboração política nos mais altos níveis por mais de 30 anos pela consolidação do poder capitalista em grandes sistemas organizados: primeiro com políticas falsas, depois com milhões e milhões caindo em batalha, são eles que mais contribuíram para a subjugação criminosa das massas ao prospecto de bem-estar e liberdade sob o regime capitalista e a “civilização cristã ocidental”.

A maneira pela qual o proletariado organizado por Moscou luta contra esta última nos países do Atlântico, é o mais amaldiçoado e grandioso sucesso e forma de garantia da civilização.


Teses e contra teses econômicas


Contra-tese 1. O ciclo de desenvolvimento da economia capitalista avança em direção a depressão contínua da qualidade de vida dos trabalhadores, que são mantidos com pouco para sequer manterem suas vidas.

Tese 1. A doutrina da concentração de riqueza que são cada vez maiores em volumes e cada vez mais concentrada em poucas mãos ainda persiste com firmeza. Entretanto, essa teoria de amontoamento de pobreza não significa que o sistema capitalista de produção não aumentou enormemente a fabricação de bens de consumo, ao quebrar a produção de pequena escala concentrada em enclaves isolados, conseguiu aumentar a satisfação de necessidades para todas as classes. A teoria marxista mantém que o processo de anarquização da produção burguesa dispersa grandes quantidades de energia. Esse ciclo também expropria sem nenhuma pena todos proprietários de média escala com pequenas reservas de bens úteis, aumentando igualmente o número de indivíduos sem reservas, nas quais sua remuneração é consumida de imediato ao momento de recebimento. Desta maneira a humanidade é indefesa frente às crises econômicas e sociais, as inevitáveis guerras inerentes do capitalismo e a ditadura da classe burguesa.


Contra tese 2. O capitalismo é superado se conseguirmos devolver a cota de mais-valia extraída do trabalhador.

Tese 2. O capitalismo é superado quando restauramos à comunidade trabalhadora não a cota de lucro baseada em 10% do consumo, mas mas nos noventa por cento espalhado pela anarquia econômica. Isso não é conquistado aplicando-se um novo sistema de contabilidade aos valores trocados mas removendo dos bens de consumo seu caráter de mercadoria, abolindo salários em dinheiro, e organizando a produção geral de maneira centralizada.


Contra tese 3. O capitalismo é superado em uma economia onde grupos de produtores controlam e administram pequenas empresas, realizando trocas livremente entre si.

Tese 3. Um sistema de troca mercantil entre empresas livres e internamente autônomas, como proposto por cooperativistas, sindicalistas e libertários, não possui potencial histórico, além de ser inteiramente não-socialista. É até mesmo retrógrado em relação a setores já organizados nos tempos atuais burgueses. Socialismo, ou comunismo, significa sociedade como um todo agindo como uma, com associação unificada de produtores e consumidores. Todo sistema baseado em empresas preserva o despotismo fabril e o anarquismo de adaptar os gastos da energia laboral aos níveis de consumo.


Contra tese 4. Mesmo se a direção estatal da economia e das forças produtivas não seja socialismo, ela modifica o caráter do capitalismo como Marx entendia, modificando o prospecto para seu colapso e determinando uma terceira forma não prevista de pós-capitalismo.

Tese 4. A neutralidade econômica do estado político não é nada mais do que uma mentira burguesa utilizada contra o estado feudal. O Marxismo mostrou que o Estado moderno representa a classe dominante de capitalistas, não a sociedade como um todo; e também foi afirmado desde o início que o estado é uma força econômica nas mãos do capital e da classe empreendedora. O dirigismo e o capitalismo de estado são formas mais avançadas da sujeição do estado político pelo capital. Isso delineia o final esperado, desesperado por conflito entre classes, que não se trata de um conflito entre números estatísticos mas sim força física: o proletariado se organiza em um partido revolucionário contra o estado constitucional.


Contra tese 5. Dada às formas não previstas da economia referida acima, o Marxismo, para manter-se válido, deve olhar para uma terceira classe que tome o poder depois da burguesia - um defunto grupo de acionistas humanos - mas que não seja o proletariado. Essa classe, a qual governa e possui privilégios na Rússia, é a burocracia; ou, no caso dos Estados Unidos, a classe dos gerentes, ou apenas, a classe técnica e administrativa de diretores de empresa.

Tese 5. Todo regime de classe teve sua burocracia administrativa, judiciária, religiosa e militar, a totalidade a qual é um instrumento da classe no poder. Mas os componentes dessa burocracia não constituem uma classe por si, já que classe trata-se da totalidade de todos que possuem relações similares com os meios de produção e consumo. Quando tornou-se incapaz de alimentar seus escravizados, a classe de donos de plantação começou a debandar (manifesto comunista) sob a burocracia imperial reinante, que lutou e reprimiu de maneira sanguinária a revolução anti-escravista. Os aristocratas já tinham há muito se encontrado com a ruína e a guilhotina, e mesmo assim o estado, o exército e as redes clericais lutaram em defesa do antigo regime. A burocracia na Rússia não é definível sem arbitrariamente separar os peixes grandes do resto: sob o capitalismo de estado todos são burocratas. Essa alegada burocracia russa, nos EUA, classe gerencial, são instrumentos sem vida e história própria e estão em serviço do capital contra a classe trabalhadora. Antagonismos de classe tendem a gerar resultados que correspondem com a perspectiva Marxista, baseados em fatos sociais, políticos e econômicos, e não ideias ultrapassadas ou novas construções ideológicas ofuscadas pela presente atmosfera.


Teses e contra teses “filosóficas”


Contra tese 1. Já que interesses econômicos determinam a opinião geral, na sociedade atual o partido da burguesia representa o interesse capitalista, e o composto de trabalhadores, o socialismo. Portanto, todos os problemas podem ser resolvidos através da consulta, não de todos cidadãos, que é uma invenção da burguesia democrata, mas sim de todos trabalhadores, a qual a situação similar gera interesses similares à sua maioria que podem ver com clareza o que o futuro reserva em termos gerais.

Tese 1. Qualquer era de dominância ideológica, cultural, artística, religiosa e filosófica é determinada pela situação da humanidade em relação à economia produtiva e as relações sociais derivadas desta. Portanto em cada época era, especialmente no ápice de seu ciclo, é comum presenciar a tensão geral em direção à opiniões que não sejam derivadas de verdades eternas ou iluminação espiritual, mas sim de opiniões completamente opostas a seu interesse real, seja de uma categoria profissional ou individual, essas opiniões sendo moldadas a partir da classe dominante e suas instituições necessárias para tal.

Apenas após longas e calorosas batalhas de interesses e necessidades, após lutas provocadas pelos conflitos de classe, a classe proletária forja uma nova opinião e doutrina capazes de opor as razões dada à defesa da ordem constitucional e arquitetar sua demolição violenta. Mesmo muito depois da vitória física, o prelúdio para o desmantelamento de influências e mentiras tradicionais, ainda é uma minoria aquela interessada no caminho para uma nova direção ideológica.


Contra tese 2. Interesses de classe determinam consciência de classe e a consciência determina ação revolucionária. A práxis reversa significa o contraste com a doutrina burguesa, de acordo com cada cidadão deve-se formar uma opinião política por ideais ou cultura, e a doutrina Marxista, de acordo com opiniões individuais, é ditada pelos interesses de classe.

Tese 2. A reversão da práxis, de acordo com a visão correta do determinismo marxista, significa que, onde cada ato individual age de acordo com determinações do meio (incluindo não só suas necessidades psicológicas mas todas influências inumeráveis das formas tradicionais de produção) e apenas após agir em sociedade pode ter uma “consciência”, imperfeita em vários níveis variantes, para suas ações: onde esse é o caso para ações coletivas, que surgem espontaneamente através das condições materiais antes que se tornem formulações ideológicas, o partido da classe reagrupa os elementos avançados dentro da sociedade e da classe que possuem entendimento da doutrina. O partido portanto é apenas o único, de maneira não arbitrária ou emotiva mas racional, elemento de uma intervenção ativa na linguagem que os filósofos chamariam de “consciência” ou “intenção”. Conquistar a classe, o poder, e a ditadura, são as funções do partido.


Contra tese 3. O partido de classe molda a doutrina revolucionária em resposta a novos eventos e situações e se adapta de acordo com as necessidades de classe ou as tendências para isso.

Tese 3. Uma luta de classes histórica e revolucionária, e um partido que age através dela, são fatos reais e não ilusões doutrinárias, na medida em que o corpo da nova teoria (que nada mais é do que uma discriminação de futuros cursos de eventos ainda a acontecer, cujas condições e premissas podem, no entanto, ser identificadas na realidade anterior) formado quando a classe apareceu na História dentro de uma nova disposição de formas de produção social. A continuidade da doutrina partidária e de classe, em várias áreas e longo período de tempo, é uma prova da certeza da previsão revolucionária;

Toda derrota física das forças revolucionárias é seguida por um período de desorientação, que toma forma na revisão de capítulos e corpos teóricos com novos fatos e eventos servindo de pretexto. O plano revolucionário irá provar-se válido quando, e apenas nessa ocasião, o objetivo final for atingido, pode ser confirmado que após cada batalha perdida as forças foram reconstituídas sob a mesma estrutura e sob o mesmo programa estabelecido na “declaração da guerra entre classes” (1848). Qualquer preparação para acomodar novas interpretações à teoria, provada como correta não por qualquer elucubração científico-filosófica, mas pela soma de soma de experiências históricas derivadas de um século de luta do proletariado moderno, é uma declaração de derrota e confissão de fracasso.

Qualquer explicação mais aprofundada dessas notas sintetizadas estão espalhadas pelo corpo teórico dos numerosos escritos do partido e relatórios de conferências e encontros.

Deter improvisos preguiçosos não deve ser considerado uma tarefa monopolizada, ou um direito exclusivo. Ainda há espaço para melhoramento na apresentação de argumentos; a exposição pode ser feita mais clara e mais efetivamente. Talvez depois de sete anos, trabalhando sete horas por semana, elas tivessem melhorado um pouco.

E se algumas crianças espertalhonas de fato aparecerem, mesmo um punhado delas, será apropriado dizer, como lembramos o frio Zinoviev dizendo, que pessoas do tipo que aparecem a cada 500 anos estão entre nós; ele estava se referindo à Lenin.

Esperamos que eles sejam embalsamados, não sentimos como se tivéssemos essa honra.